Atração Perigosa: O fascínio de algumas mulheres por relacionamentos com criminosos




Por Jéssica Peixoto

O envolvimento de algumas mulheres com homens que cometem crimes é um fenômeno que desperta curiosidade e preocupação. Esse comportamento, que vai desde a atração por figuras consideradas "bad boys" até relações mais sérias, desafia as convenções sociais e tem implicações profundas na vida das mulheres envolvidas. Para psicólogos e sociólogos, compreender essa dinâmica requer uma análise de fatores emocionais, sociais e culturais.



O fascínio pelo “cuidado”


Em muitos casos, essas mulheres se sentem atraídas por características contraditórias nos criminosos: apesar de suas atitudes violentas ou ilegais, eles podem demonstrar afeto, proteção e um desejo aparente de cuidar da parceira. Essa dualidade cria uma ilusão poderosa. Como explica a psicóloga forense Katherine Ramsland, “algumas mulheres acreditam que podem mudar esses homens por meio do amor”. A percepção de que, mesmo com um histórico de delitos, ele será capaz de cuidar dela de maneira especial exerce um fascínio psicológico profundo, levando a mulher a ignorar os riscos envolvidos.



Quando o sonho se torna pesadelo


Contudo, a realidade dessas relações frequentemente é sombria. O comportamento amoroso e protetor, que inicialmente conquista a mulher, muitas vezes dá lugar a atitudes abusivas. Na maioria dos casos, essas mulheres se tornam vítimas e reféns, tratadas como objetos e impedidas de deixar o relacionamento. O controle emocional e, por vezes, físico exercido pelo parceiro criminoso perpétua um ciclo de violência e submissão.

“Há uma romantização inicial que encobre a verdadeira face do relacionamento”, explica a terapeuta familiar Carolina Moreira. “Essas mulheres acreditam no cuidado, mas muitas vezes encontram um comportamento possessivo e opressor, que destrói sua autonomia.”




Dinâmica psicológica e social


A atração por criminosos pode estar ligada a um desejo de viver emoções intensas e ao arquétipo do "homem perigoso", amplamente romantizado pela mídia. Filmes, séries e até mesmo a cobertura jornalística podem reforçar essa idealização. No entanto, há também componentes emocionais e psicológicos mais profundos, como a baixa autoestima ou experiências passadas de relacionamentos abusivos, que predispõem algumas mulheres a enxergar um potencial redentor em homens com comportamentos antissociais.

“Esses homens oferecem uma narrativa: 'Sou perigoso para o mundo, mas não para você', e isso pode ser incrivelmente sedutor para mulheres que buscam validação ou proteção em um mundo que também as trata com violência”, aponta a socióloga Amanda Ribeiro.


A luta contra o ciclo de abuso


Para romper esse ciclo, é essencial oferecer suporte emocional e psicológico às mulheres que se encontram em relacionamentos com criminosos. Além disso, educar a sociedade sobre as consequências de romantizar figuras criminosas e promover a autonomia feminina são passos importantes para prevenir esses envolvimentos.

Como conclui Carolina Moreira: “A fantasia de ser cuidada ou amada por alguém perigoso muitas vezes custa caro, levando a uma relação destrutiva. Reconhecer os sinais e buscar ajuda é fundamental para evitar que o fascínio inicial se transforme em aprisionamento emocional ou físico.”

O debate sobre essa questão é urgente e precisa envolver não apenas especialistas, mas também a sociedade como um todo, para proteger as mulheres e desmistificar o perigo envolvido nesses relacionamentos.

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