Resultados iniciais foram obtidos em testes em laboratório
Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil
Foto: Ernesto Eslava/Pixabay
Nos próximos dias, cientistas brasileiros vão iniciar os testes clínicos com um medicamento que apresentou 94% de eficácia em ensaios in vitro na redução da carga viral em células infectadas pelo novo coronavírus. De acordo com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, os testes serão feitos em 500 pacientes internados com covid-19, em sete hospitais do país: cinco no Rio de Janeiro, um em São Paulo e um em Brasília.
O nome do medicamento só será divulgado após o fim do protocolo de pesquisa clínica, até que seja demonstrada a sua eficácia e segurança em pacientes, “para evitar uma correria em torno do medicamento”. Mas, de acordo com Pontes, é um remédio de baixo custo, bem tolerado e disponível inclusive em formulações pediátricas. “Por que isso é importante? Ele tem uma vantagem muito grande, tem pouco efeito colateral e pode ser empregado numa grande faixa da população”, explicou.
O ministro destacou a importância e o trabalho da ciência brasileira na busca por soluções contra a pandemia de covid-19. “Nós estamos falando de ciência feita no Brasil, uma ciência respeitada em todo o mundo. Os nossos cientistas são muito responsáveis, não só pelo conhecimento, mas pela atitude, esse pessoal tem trabalhado dia e noite. Muitos são bolsistas e estamos conseguindo resultados por meio do trabalho desses pesquisadores”, disse o ministro. “Espero que vocês como brasileiros também tenham orgulho desses cientistas”, ressaltou.
Replicação viral
Foram realizados testes com 2 mil medicamentos que já são comercializados em farmácias para verificar se existe algum capaz de se ligar ao vírus e de bloquear a replicação viral. A estratégia, chamada de reposicionamento de fármacos, foi adotada por cientistas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Ao final, os pesquisadores identificaram seis moléculas promissoras que seguiram para teste in vitro com células infectadas com o novo coronavírus. Desses seis remédios pesquisados, os cientistas do CNPEM descobriram que dois reduziram significativamente a replicação do vírus. O remédio mais promissor apresentou 94% de eficácia em ensaios com as células infectadas.
O protocolo de ensaios clínicos foi aprovado nesta terça-feira (14) pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. O medicamento será ministrado por cinco dias nos pacientes e mais nove serão necessários para observação. Serão incluídos no estudo pessoas que chegarem aos hospitais com pneumonia e sintomas de covid-19: febre, tosse seca e as características da tomografia com vidro fosco.
O grupo de testagem será amplo, com qualquer pessoa maior de 18 anos, mas não para os casos muito graves. O paciente deverá assinar um termo de consentimento para participar do protocolo, que consiste na administração aleatória do medicamento ou de placebo. A expectativa é que o estudo seja concluído em quatro semanas. “Isso é feito de forma extremamente científica, usando todo o formalismo científico, para que a gente não tenha dúvidas”, destacou o ministro.
O desenvolvimento do estudo no LNBio ocorre no âmbito da Rede Vírus do MCTIC, responsável pela articulação dos laboratórios de pesquisa e especialistas na continuidade dos estudos com pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Testes e vacinas
O ministro também apresentou hoje o resultado do trabalho do CTVacinas, da Universidade Federal de Minas Gerais, que também por meio da Rede Vírus, desenvolveu um reagente nacional que tem a mesma performance de reagentes importados para testes diagnósticos de covid-19. “Isso dá autonomia para o país e a possibilidade de aumentar a produção para os tipos de teste que estão sendo feitos no Brasil”, explicou Pontes.
Outra pesquisa apresentada pelo ministro é o desenvolvimento de um teste para detecção do novo coronavírus que não precisa de reagente químico. “É um equipamento que faz reação com laser a partir da saliva da pessoa que está sendo testado”, explicou. O processamento do diagnóstico é feito por meio de inteligência artificial e o resultado fica pronto em menos de 1 minuto.
O sensor está sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Teranóstica e Nanobiotecnologia (INCT TeraNano), da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais. De acordo com Pontes, com a informatização das unidades de saúde, em 20 dias, será possível colocar um número considerável dessas máquinas no país, cerca de mil máquinas capazes de fazer até 500 testes por dia.
“Imaginando que tudo isso funcione [o remédio e os testes], em meados de maio teremos ferramentas muito efetivas para combater essa pandemia no Brasil e resolver todos esses problemas”, disse o ministro.
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